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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

UPP - Unidos Pela Paz



Ele existe?

- Pai, por que você está sangrando? Você vai morrer?
- Vou sim meu filho.
- Por que pai?
- Porque é assim que Deus deseja e nós só temos que aceitar!
- Não entendo.
Ele queria que eu nascesse pobre, que eu viva como um favelado e que veja a morte de meu pai, ver o Senhor sangrar por um buraco no peito que é maior que um punho?
Por que ele quer isso?
Será que ele quer que sejamos entretenimento para o Homem de binóculo da cobertura?
Ou será simplesmente por que ele goste de sempre ver um filho teu sofrer?
- Não faça tantas perguntas meu filho, por que o Homem não gosta e Deus castiga.

Lucas Neiva
"O poeta Passa, a reflexão Fica..."

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Bunda



Papo de Bunda

Despojado à frente de uma janela vejo um mar de Bundas,
Bundas de todas as cores, acredite,
Bunda da Mulata que disputa com a tanajura o rótulo de maior Bunda,
Bundas que se dizem comportadas e se escondem sob o saião, só pra convencer o irmão,
Bundas docemente arredondadas que causam água na boca de tamanha perfeição,
Bundas magras, mas assanhadas, que se sentem como Bunda de mulata,
Mas nem tudo é Bunda, as vezes é bunda.
Só pra agradar as Mulheres, da bunda dos homens vou falar!
Vendo daqui, são todas magras e secas, sem nenhuma atração.
Mas pra não se decepcionar,
Ainda tem uma Bunda à se falar,
Da minha própria,
Que por sinal, vou te contar,
Bunda bela como ela não há.

Lucas Neiva

Na minha postagem anterior, me falaram muito que foi um tanto erótico e nesse provavelmente vão me considerar um tarado sexual ou um homossexual enrustido, mas nem um, muito menos o outro, foi à imagem que quis passar.
Eu só queria brincar com a expressão: "Se preocupe com a sua Bunda". Geralmente expressa junto a um sentimento de indignação e revolta com o fato de outra pessoa está se intrometendo muito em sua Vida.
Releia o poema substituindo a palavra "Bunda" e "bunda" por "Vida" e "vida", respectivamente. O poema fica mais engraçado e irônico.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Perfeição

Estou de volta. Agora com uma pegada mais Modernista

Muito se diz sobre a pessoa perfeita e gostamos de criar essa imagem de perfeição para podermos suprir nossos sonhos. Como ser humano não posso ficar de fora desse hall de seres egoístas e pretensiosos, mas ao mesmo tempo encantadores e Românticos que na verdade só querem aprender a se apaixonar.

Perfeição


A mulher perfeita pra mim,
Tem que saber ser sex, mas também saber ser conservadora;
Tem que brigar comigo,
E todas nossas brigas devem ter fim com aquele beijo que só você sabe dar;
Tem que ser inteligente ao ponto de sustentar suas colocações;
Deve beijar com toda aquela paixão que o amor carnal necessita;
Não precisa ser bela, muito menos feia;
Só precisa passar pelo cercado que protege o meu coração.

Se você não sabe como o fazer!?
Vou te dar uma dica!
Esqueça tudo que eu te disse antes,
e seja você mesma;
mas volte a me beijar,
Mas dessa vez pare de me beijar em seus sonhos,
e comece a apreciar o verdadeiro sabor do meu amor.


Neiva, Lucas Santos


Eu fiz uma represália ao Amor Platônico nesse poema, pois o considero um tanto que cansativo. O tempo que é empregado nesse "amor sem retorno", seria melhor utilizado pra proporcionar uma vida mais dinâmica.

Por isso lá vai uma dica. Aproveite as minúcias de seu dia e sempre busque deitar a noite com a saudade do dia que a por vir, aproveitar do canto do primeiro pássaro até o acender da ultima estrela.

"O poeta Passa, a reflexão Fica..."

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Pause

Informo a todos que paralisarei as Postagens por algum tempo.
Com a aproximação do ENEM se aumenta a intensidade dos estudos. Agradeço a compreensão de todos.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Reflexão



Estava em dúvida entre três poemas totalmente diferentes para postar, entretanto em uma inspiração milagrosa, fui levado a criar outro poema.
Dêem uma lida nele e digam o que acham.


Data, dia 7 de outubro de 2010
Pra que falar o Você

Queria eu poder um dia voltar a te sentir.
Peço a Deus toda noite que a cuide
Peço que lhe trate com o mesmo Amor que eu lhe tratei.
Me arrependo de não ter dado tudo que pude lhe dar,
Me arrependo de ter te deixado viajar,
Me arrependo de lá não estar,
Me arrependo de a bebida e ao mundo me entregar,
Me arrependo de só agora no meu fim eu parar pra pensar
E por fim,
Me arrependo de não poder te reencontrar,
Pois agora vou colher o que passei a vida a plantar.
Atenciosamente,
Eu, Seu viúvo marido

Neiva. Lucas. Choros de uma Alma Inquieta

A primeira coisa que se percebe no poema é sua construção. Ele foi construído com as bases do formato de carta. O Poema em si começa na "Data", retratando uma carta enviada para a pessoa amada. A pessoa que envia a carta está em seu leito de morte fazendo uma reflexão de sua vida, já a que recebe, já morreu a certo tempo não mencionado.
O grande dilema do escritor da carta é ter sempre esperado o dia de reencontrar sua grande Amada, mas saber que depois de toda uma vida de abusos dificilmente irá encontrá-la tão cedo.
O poema da carta tem um título, "Pra que falar o Você", nele, é demonstrado a decepção do autor diante de sigo mesmo, se questionando o por que de lembrar do nome da Amada, se provavelmente não a verá depois de sua morte. O mais curioso é que em sua Carta Ele está sempre evitando usas o “Você”.
O título do poema diz tudo, "Choros de uma Alma Inquieta", ele retrata uma reflexão que geralmente é feita pelo Homem em seus momentos finais de vida.
O poema possui quatro personagens, o Autor da Carta, Deus, a Viúva, e a Mente do Autor da Carta, essa ultima age em toda sua vida como uma testemunha de seus atos, abusos e erros, agora em seus últimos instantes de vida ela o defronta e se torna seu algoz.

"O poeta Passa, a reflexão Fica..."

domingo, 3 de outubro de 2010

Daqui a dois Anos tem Mais



Boa noite.
Dessa vez eu juro que não vou colocar nenhuma frase de efeito. Eu deveria ter postado ontem, mas não postei... ...desculpem-me pelo atraso. Hoje a tarde descobri, ao organizar minhas coisas, um livro quase que esquecido. Nesse livro de Monteiro Lobato, denominado Negrinha, existe um poema de mesmo Nome. Poema que o enlaça como enlaça os livros de Paulo Coelho e Jorge Amado, poema que sozinho poderia ser um livro, embora que tal livro leve seu nome. Negrinha é mais que um poema, ela é o chorar de nossas Almas. É, eu coloquei uma frase de efeito, mas hoje depois das eleições eu lhes peço uma reflexão. Ao ler o poema coloque-se no lugar de Negrinha e pense... ... em qual dos Políticos que você votou hoje poderiam Assumir a posição da Senhora.

Negrinha

Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados.

Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.

Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma — “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo.

Ótima, a dona Inácia.

Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos, não a calejara o choro da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro da carne alheia. Assim, mal vagia, longe, na cozinha, a triste criança, gritava logo nervosa:

— Quem é a peste que está chorando aí?

Quem havia de ser? A pia de lavar pratos? O pilão? O forno? A mãe da criminosa abafava a boquinha da filha e afastava-se com ela para os fundos do quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões de desespero.

— Cale a boca, diabo!

No entanto, aquele choro nunca vinha sem razão. Fome quase sempre, ou frio, desses que entanguem pés e mãos e fazem-nos doer...

Assim cresceu Negrinha — magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados. Órfã aos quatro anos, por ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés. Não compreendia a idéia dos grandes. Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos. Aprendeu a andar, mas quase não andava. Com pretextos de que às soltas reinaria no quintal, estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num desvão da porta.

— Sentadinha aí, e bico, hein?

Negrinha imobilizava-se no canto, horas e horas.

— Braços cruzados, já, diabo!

Cruzava os bracinhos a tremer, sempre com o susto nos olhos. E o tempo corria. E o relógio batia uma, duas, três, quatro, cinco horas — um cuco tão engraçadinho! Era seu divertimento vê-lo abrir a janela e cantar as horas com a bocarra vermelha, arrufando as asas. Sorria-se então por dentro, feliz um instante.

Puseram-na depois a fazer crochê, e as horas se lhe iam a espichar trancinhas sem fim.

Que idéia faria de si essa criança que nunca ouvira uma palavra de carinho? Pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata-choca, pinto gorado, mosca-morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa-ruim, lixo — não tinha conta o número de apelidos com que a mimoseavam. Tempo houve em que foi a bubônica. A epidemia andava na berra, como a grande novidade, e Negrinha viu-se logo apelidada assim — por sinal que achou linda a palavra. Perceberam-no e suprimiram-na da lista. Estava escrito que não teria um gostinho só na vida — nem esse de personalizar a peste...

O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa todos os dias, houvesse ou não houvesse motivo. Sua pobre carne exercia para os cascudos, cocres e beliscões a mesma atração que o ímã exerce para o aço. Mãos em cujos nós de dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria dos fluidos em sua cabeça. De passagem. Coisa de rir e ver a careta...

A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos — e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo — essa indecência de negro igual a branco e qualquer coisinha: a polícia! “Qualquer coisinha”: uma mucama assada ao forno porque se engraçou dela o senhor; uma novena de relho porque disse: “Como é ruim, a sinhá!”...

O 13 de Maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava Negrinha em casa como remédio para os frenesis. Inocente derivativo:

— Ai! Como alivia a gente uma boa roda de cocres bem fincados!...

Tinha de contentar-se com isso, judiaria miúda, os níqueis da crueldade. Cocres: mão fechada com raiva e nós de dedos que cantam no coco do paciente. Puxões de orelha: o torcido, de despegar a concha (bom! bom! bom! gostoso de dar) e o a duas mãos, o sacudido. A gama inteira dos beliscões: do miudinho, com a ponta da unha, à torcida do umbigo, equivalente ao puxão de orelha. A esfregadela: roda de tapas, cascudos, pontapés e safanões a uma — divertidíssimo! A vara de marmelo, flexível, cortante: para “doer fino” nada melhor!

Era pouco, mas antes isso do que nada. Lá de quando em quando vinha um castigo maior para desobstruir o fígado e matar as saudades do bom tempo. Foi assim com aquela história do ovo quente.

Não sabem! Ora! Uma criada nova furtara do prato de Negrinha — coisa de rir — um pedacinho de carne que ela vinha guardando para o fim. A criança não sofreou a revolta — atirou-lhe um dos nomes com que a mimoseavam todos os dias.

— “Peste?” Espere aí! Você vai ver quem é peste — e foi contar o caso à patroa.

Dona Inácia estava azeda, necessitadíssima de derivativos. Sua cara iluminou-se.

— Eu curo ela! — disse, e desentalando do trono as banhas foi para a cozinha, qual perua choca, a rufar as saias.

— Traga um ovo.

Veio o ovo. Dona Inácia mesmo pô-lo na água a ferver; e de mãos à cinta, gozando-se na prelibação da tortura, ficou de pé uns minutos, à espera. Seus olhos contentes envolviam a mísera criança que, encolhidinha a um canto, aguardava trêmula alguma coisa de nunca visto. Quando o ovo chegou a ponto, a boa senhora chamou:

— Venha cá!

Negrinha aproximou-se.

— Abra a boca!

Negrinha abriu aboca, como o cuco, e fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água “pulando” o ovo e zás! na boca da pequena. E antes que o urro de dor saísse, suas mãos amordaçaram-na até que o ovo arrefecesse. Negrinha urrou surdamente, pelo nariz. Esperneou. Mas só. Nem os vizinhos chegaram a perceber aquilo. Depois:

— Diga nomes feios aos mais velhos outra vez, ouviu, peste?

E a virtuosa dama voltou contente da vida para o trono, a fim de receber o vigário que chegava.

— Ah, monsenhor! Não se pode ser boa nesta vida... Estou criando aquela pobre órfã, filha da Cesária — mas que trabalheira me dá!

— A caridade é a mais bela das virtudes cristas, minha senhora —murmurou o padre.

— Sim, mas cansa...

— Quem dá aos pobres empresta a Deus.

A boa senhora suspirou resignadamente.

— Inda é o que vale...

Certo dezembro vieram passar as férias com Santa Inácia duas sobrinhas suas, pequenotas, lindas meninas louras, ricas, nascidas e criadas em ninho de plumas.

Do seu canto na sala do trono, Negrinha viu-as irromperem pela casa como dois anjos do céu — alegres, pulando e rindo com a vivacidade de cachorrinhos novos. Negrinha olhou imediatamente para a senhora, certa de vê-la armada para desferir contra os anjos invasores o raio dum castigo tremendo.

Mas abriu a boca: a sinhá ria-se também... Quê? Pois não era crime brincar? Estaria tudo mudado — e findo o seu inferno — e aberto o céu? No enlevo da doce ilusão, Negrinha levantou-se e veio para a festa infantil, fascinada pela alegria dos anjos.

Mas a dura lição da desigualdade humana lhe chicoteou a alma. Beliscão no umbigo, e nos ouvidos, o som cruel de todos os dias: “Já para o seu lugar, pestinha! Não se enxerga”?

Com lágrimas dolorosas, menos de dor física que de angústia moral —sofrimento novo que se vinha acrescer aos já conhecidos — a triste criança encorujou-se no cantinho de sempre.

— Quem é, titia? — perguntou uma das meninas, curiosa.

— Quem há de ser? — disse a tia, num suspiro de vítima. — Uma caridade minha. Não me corrijo, vivo criando essas pobres de Deus... Uma órfã. Mas brinquem, filhinhas, a casa é grande, brinquem por aí afora.

— Brinquem! Brincar! Como seria bom brincar! — refletiu com suas lágrimas, no canto, a dolorosa martirzinha, que até ali só brincara em imaginação com o cuco.

Chegaram as malas e logo:

— Meus brinquedos! — reclamaram as duas meninas.

Uma criada abriu-as e tirou os brinquedos.

Que maravilha! Um cavalo de pau!... Negrinha arregalava os olhos. Nunca imaginara coisa assim tão galante. Um cavalinho! E mais... Que é aquilo? Uma criancinha de cabelos amarelos... que falava “mamã”... que dormia...

Era de êxtase o olhar de Negrinha. Nunca vira uma boneca e nem sequer sabia o nome desse brinquedo. Mas compreendeu que era uma criança artificial.

— É feita?... — perguntou, extasiada.

E dominada pelo enlevo, num momento em que a senhora saiu da sala a providenciar sobre a arrumação das meninas, Negrinha esqueceu o beliscão,o ovo quente, tudo, e aproximou-se da criatura de louça. Olhou-a com assombrado encanto, sem jeito, sem ânimo de pegá-la.

As meninas admiraram-se daquilo.

— Nunca viu boneca?

— Boneca? — repetiu Negrinha. — Chama-se Boneca?

Riram-se as fidalgas de tanta ingenuidade.

— Como é boba! — disseram. — E você como se chama?

— Negrinha.

As meninas novamente torceram-se de riso; mas vendo que o êxtase da bobinha perdurava, disseram, apresentando-lhe a boneca:

— Pegue!

Negrinha olhou para os lados, ressabiada, como coração aos pinotes. Que ventura, santo Deus! Seria possível? Depois pegou a boneca. E muito sem jeito, como quem pega o Senhor menino, sorria para ela e para as meninas, com assustados relanços de olhos para a porta. Fora de si, literalmente... era como se penetrara no céu e os anjos a rodeassem, e um filhinho de anjo lhe tivesse vindo adormecer ao colo. Tamanho foi o seu enlevo que não viu chegar a patroa, já de volta. Dona Inácia entreparou, feroz, e esteve uns instantes assim, apreciando a cena.

Mas era tal a alegria das hóspedes ante a surpresa extática de Negrinha, e tão grande a força irradiante da felicidade desta, que o seu duro coração afinal bambeou. E pela primeira vez na vida foi mulher. Apiedou-se.

Ao percebê-la na sala Negrinha havia tremido, passando-lhe num relance pela cabeça a imagem do ovo quente e hipóteses de castigos ainda piores. E incoercíveis lágrimas de pavor assomaram-lhe aos olhos.

Falhou tudo isso, porém. O que sobreveio foi a coisa mais inesperada do mundo — estas palavras, as primeiras que ela ouviu, doces, na vida:

— Vão todas brincar no jardim, e vá você também, mas veja lá, hein?

Negrinha ergueu os olhos para a patroa, olhos ainda de susto e terror. Mas não viu mais a fera antiga. Compreendeu vagamente e sorriu.

Se alguma vez a gratidão sorriu na vida, foi naquela surrada carinha...

Varia a pele, a condição, mas a alma da criança é a mesma — na princesinha e na mendiga. E para ambos é a boneca o supremo enlevo. Dá a natureza dois momentos divinos à vida da mulher: o momento da boneca — preparatório —, e o momento dos filhos — definitivo. Depois disso, está extinta a mulher.

Negrinha, coisa humana, percebeu nesse dia da boneca que tinha uma alma. Divina eclosão! Surpresa maravilhosa do mundo que trazia em si e que desabrochava, afinal, como fulgurante flor de luz. Sentiu-se elevada à altura de ente humano. Cessara de ser coisa — e doravante ser-lhe-ia impossível viver a vida de coisa. Se não era coisa! Se sentia! Se vibrava!

Assim foi — e essa consciência a matou.

Terminadas as férias, partiram as meninas levando consigo a boneca, e a casa voltou ao ramerrão habitual. Só não voltou a si Negrinha. Sentia-se outra, inteiramente transformada.

Dona Inácia, pensativa, já a não atazanava tanto, e na cozinha uma criada nova, boa de coração, amenizava-lhe a vida.

Negrinha, não obstante, caíra numa tristeza infinita. Mal comia e perdera a expressão de susto que tinha nos olhos. Trazia-os agora nostálgicos, cismarentos.

Aquele dezembro de férias, luminosa rajada de céu trevas adentro do seu doloroso inferno, envenenara-a.

Brincara ao sol, no jardim. Brincara!... Acalentara, dias seguidos, a linda boneca loura, tão boa, tão quieta, a dizer mamã, a cerrar os olhos para dormir. Vivera realizando sonhos da imaginação. Desabrochara-se de alma.

Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono. Jamais, entretanto, ninguém morreu com maior beleza. O delírio rodeou-a de bonecas, todas louras, de olhos azuis. E de anjos... E bonecas e anjos remoinhavam-lhe em torno, numa farândola do céu. Sentia-se agarrada por aquelas mãozinhas de louça — abraçada, rodopiada.

Veio a tontura; uma névoa envolveu tudo. E tudo regirou em seguida, confusamente, num disco. Ressoaram vozes apagadas, longe, e pela última vez o cuco lhe apareceu de boca aberta.

Mas, imóvel, sem rufar as asas.

Foi-se apagando. O vermelho da goela desmaiou...

E tudo se esvaiu em trevas.

Depois, vala comum. A terra papou com indiferença aquela carnezinha de terceira — uma miséria, trinta quilos mal pesados...

E de Negrinha ficaram no mundo apenas duas impressões. Uma cômica, na memória das meninas ricas.

— “Lembras-te daquela bobinha da titia, que nunca vira boneca?”

Outra de saudade, no nó dos dedos de dona Inácia.

— “Como era boa para um cocre!...”

Monteiro Lobato


"O poeta Passa, a reflexão Fica..."

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Dito Ditadores

Começo a segunda postagem lembrando a todos que no dia 3 de Outubro haverá eleições e sobre essa pauta estou transcrevendo um trecho do discurso de Charles Chaplin no filme "O Grande ditador".

“No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de faze-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós.”

O Último Discurso. Charles Chaplin



"Por mais que o mundo seja um incubador de mazelas, busque que sua existência mesmo que efêmera transcenda tais barreiras e de alguma forma fique marcada no brio dos que lhe rodeiam."

Lucas Neiva

Tudo ou Nada

noites
Claras dias escuros
Vivo fugindo do abismo como os pássaros fogem do inverno
desilusão tremenda que traz dor aos meus sentimentos
tal
dor que atinge meus olhos
mais
Tenho olhos que só sangrarão quando o fim de fato Chegar.


Lucas Neiva

domingo, 26 de setembro de 2010

Iracema

Minha primeira postagem.
Tomara que seja a anfitriã de muitas outras...

Pra isso, eu vou reproduzir um trecho do livro Iracema do grande "José de Alencar".
Esse trecho fala de um sentimento que estamos sempre tentando Sufocar. Eu mesmo, por muitas vezes o sufoquei, talvez pelo medo do sofrimento conhecido como Decepção, ou simplesmente medo do que estava Infiltrado em min. Muitos se deixam levar por terceiros, pratica de mentes fracas, como também já fiz, mas é na poesia o único lugar onde o peito Chora.

“O vento não leva a areia da várzea, quando a areia bebe a água da chuva”

Iracema. José de Alencar

Tais Palavras me perfuraram como o vento perfura o céu, criando sempre novos arranjos para as nuvens, dei-me a escrever reflexos de meu peito controlados por minha mente e extrai palavras que em tal momento retratavam meu "Eu" inquietado por tamanha Oratória do Autor.

Sinônimos


sou

sou Água
sou Chuva que sente Sede na várzea que busca Areia
entretanto vivo a soprar Sílicas que não saciam minha Ambição,
Avidez que busca vez em tremendo Turbilhão,
Voragem impensada que toda noite na verdade fica atormentada
pois busca um Mar que sacie seu Coração.

Lucas Neiva

"O poeta Passa, a reflexão Fica..."

Dedico a primeira Postagem a uma Estrela muito querida, que me aturou e criou a estrutura deste blog. Essa Estrela se chama "Thândara Mota".

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